Dor em gatos: sinais silenciosos
- Wilson Santos
- 14 de mai.
- 3 min de leitura
Ao contrário dos cães, que costumam vocalizar desconforto de maneira mais evidente, os gatos tendem a mascarar sinais de dor — um comportamento herdado de seus ancestrais selvagens.
Na natureza, um animal que demonstra fraqueza se torna presa fácil.
Por isso, muitos tutores e até profissionais subestimam sintomas sutis, que podem indicar quadros dolorosos importantes.
Reconhecer esses sinais precocemente é fundamental para garantir bem-estar e evitar complicações clínicas. Neste post, reunimos observações clínicas, comportamentais e dicas práticas, com foco na identificação da dor em felinos, tanto por tutores quanto por profissionais da área veterinária.

Sinais comportamentais que sugerem dor em gatos
Mesmo sem vocalização direta, o gato pode "falar" por meio do comportamento. Veja os sinais mais comuns:
Redução da atividade espontânea: o gato brinca menos, deixa de pular em locais altos ou evita subir em móveis que antes frequentava.
Mudança de temperamento: fica mais arredio, agressivo, ou intolerante ao toque.
Esconde-se com frequência: busca locais mais afastados ou escuros, comportamento típico de gatos que não estão bem.
Postura encolhida e imóvel: principalmente com o dorso arqueado ou cabeça baixa, como se estivesse tentando proteger alguma parte do corpo.
Lambedura excessiva de uma região: o gato pode tentar "resolver" a dor lambendo constantemente o local afetado.
Mudanças no apetite e no uso da caixa de areia: recusa alimentos, bebe menos água ou faz as necessidades fora da caixa.
Expressão facial alterada: olhos semicerrados, bigodes projetados para trás, orelhas retraídas — o chamado grimace scale felino já é utilizado em centros de pesquisa e clínicas. (link nas referências)
A dor deve ser presumida, não descartada
Mesmo que, em uma consulta, os tutores não relatem dor, a presunção de dor deve estar presente sempre que houver lesões, inflamações ou histórico de trauma. A avaliação da dor deve ser rotineira em:
Pós-operatórios, especialmente ortopédicos e odontológicos.
Casos de osteoartrite e doenças degenerativas.
Doenças urinárias crônicas e obstruções.
Gengivites severas ou estomatites.
Pancreatites e doenças abdominais agudas.
Câncer, mesmo em fase inicial.
O uso de escalas comportamentais validadas e o acompanhamento por vídeo feito pelos tutores pode ser útil para avaliar alterações sutis fora do ambiente clínico.
Conclusão
Gatos não “reclamam” da dor — eles se recolhem, se calam, se escondem.
Por isso, é nossa responsabilidade, como tutores e profissionais, estarmos atentos a esses pequenos sinais.
A dor silenciosa é um dos maiores desafios na medicina felina, mas também uma das áreas onde podemos fazer a maior diferença.
Observar é um ato de cuidado. Agir, é um ato de amor.
Bibliografia e Referências Científicas
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