Vida e morte pelos animais
- Wilson Santos
- 29 de set.
- 3 min de leitura

Hoje talvez fosse um daqueles dias em que eu não deveria escrever. Mas, a indignação fala mais alto: o descuido, a falta de amor genuíno, a ausência de prevenção, o abandono e o sofrimento desnecessário dos animais não podem ser silenciados.
Uma reportagem recente da BBC chamou atenção para um dado alarmante: os altíssimos índices de suicídio entre médicos-veterinários.
E o mais triste é que muitos tutores, que deveriam enxergar os veterinários como verdadeiros pediatras de suas famílias, nem sequer sabem que tantos profissionais vêm adoecendo a ponto de desistirem da própria vida.
Por quê?
Porque a dor que o veterinário vê diariamente — a negligência, o descaso, a dificuldade de oferecer dignidade a cada paciente por falta de apoio do tutor — pesa. Pesa muito.
Faça uma conta rápida
Entre 15 pessoas que você conhece e que têm pets:
Quantas realmente deixam de gastar em algo supérfluo para investir em prevenção e cuidados médicos?
Quantas preferem comprar roupas ou acessórios novos, mas oferecem ao pet uma ração de baixa qualidade, quando poderiam investir um pouco mais em nutrição adequada?
Quantas recorrem a medicamentos mais baratos ou até inadequados para economizar e, ao mesmo tempo, gastam com lazer sem hesitar?
Quantas deixam de levar o animal ao veterinário para consultas preventivas, mas não abrem mão de um acessório para o carro ou um gadget novo?
Quantos entendem que até o granulado sanitário é uma questão de saúde, e não apenas de conveniência?
E, pior:Entre esses mesmos tutores, quantos já chegaram ao consultório com a frase pronta —
“Doutor, não tenho dinheiro para exames…”
E logo depois, vão ao mercado ou ao shopping e compram itens supérfluos sem hesitar?
O peso para o veterinário
Não se trata de negar o direito de cada pessoa gastar como quiser. Mas, é impossível não pensar: se o tutor estivesse no lugar do animal, também não desejaria que sua saúde fosse a prioridade?
O veterinário vê todos os dias tutores que se dedicam, que se sacrificam financeiramente para salvar um pet querido — e também vê aqueles que tratam a vida de um ser vivo como se fosse apenas um brinquedo de pelúcia.

E então vem a bomba:
O tutor chega dizendo: “Ele estava bem até ontem!”, mas o quadro já é grave e evolutivo.
Ou então recusa recomendações médicas, mesmo vendo o animal em sofrimento.
O profissional sente a dor de tentar aliviar a vida de um ser indefeso, mas esbarra em barreiras humanas — financeiras, emocionais ou até de indiferença.
A desvalorização da profissão
Para muitos, tudo é “caro”:
R$ 100 pela consulta.
R$ 150 por um exame.
R$ 60 em um medicamento.
Mas será que o veterinário não tem contas para pagar? Não precisa viver, se alimentar, sustentar a clínica, ter uma vida digna?
Claro: assim como em qualquer profissão, existem os maus profissionais que exploram pessoas. Mas aqui falamos da grande maioria dos médicos-veterinários sérios, éticos e comprometidos com o bem-estar animal.
E essa maioria, infelizmente, está adoecendo.
O sofrimento diário, aliado à cobrança social e à dificuldade de conciliar empatia com sobrevivência financeira, é uma das razões para os números crescentes de depressão, burnout e suicídio na medicina veterinária.
Precisamos falar sobre isso
O silêncio não ajuda. A saúde mental dos veterinários precisa ser cuidada com a mesma atenção que eles dedicam aos nossos animais. A empatia com esses profissionais deve ser parte da relação tutor–veterinário.
E se você é veterinário e se sente sobrecarregado: não está sozinho.
Procure apoio.
Fale com colegas, familiares, amigos.
Ligue para o CVV – 188 (Centro de Valorização da Vida). Sua vida importa.
Fale com ao NOMV
Fontes, para mostrar que isso vem de algum tempo
Todos nós erramos e todos carregamos culpas, mas permitir que elas se convertam em apatia, traumas e desculpas pra o descuido e desamor, é uma decisão, não uma consequência. Valorize seu pet e seu vet. Divulgue, por favor




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